Esporte

Uma Gaivota viajando pela Europa

A maior novidade da temporada européia, o pequeno Brighton & Hove Albion, despertou os olhares do velho continente pelo seu futebol instigante e sua rede de captação de talentos, conseguindo sua melhor colocação na história do futebol inglês e garantindo vaga para sua primeira competição européia.

O Brighton é uma equipe do sul da Inglaterra, localizado na cidade de mesmo nome, ou melhor, localizado na cidade que recebeu o seu nome. Essa anedota, que pode parecer desinteressante, na verdade é uma prova da união entre torcedor, clube e cidade. Brighton e Hove eram cidades bem diferentes e que não se gostavam. Brighton, um balneário onde muitos passam férias, uma cidade considerada moderna. Já Hove, mais tradicional, com áreas verdes e construções antigas. Porém, devido a uma reorganização do governo britânico, as cidades tiveram que se unir em 1997 e, para resolver o impasse sobre que nome a localidade deveria receber, os moradores de ambas viram que o clube que os unia já deixava uma lição de como ambos poderiam coexistir. Nascia então a cidade de Brighton & Hove. “The Seagulls” (As Gaivotas, em inglês) não possuem uma história de grandes feitos desportivos. Fundado em 1901, tem na sua galeria alguns acessos a primeira divisão e títulos da quarta e terceira divisões inglesa, que dividem espaço com campanhas ruins de outros anos, crises financeiras, perda do estádio e até mesmo um quase rebaixamento para as ligas amadoras do futebol inglês. No entanto, muito graças ao seus torcedores, que não permitiram que o clube deixasse de existir, o clube vive hoje o seu melhor momento na história, que até então era um vice-campeonato da Copa da Inglaterra.

Essa história de ascensão do Brighton começa com a compra do clube em 2009 pelo empresário do ramo das apostas esportivas, Antony Bloom, que em seu primeiro ato deu uma nova casa ao clube e seus torcedores que, desde da venda de seu antigo estádio, perambulavam por estádios do sul para jogar suas partidas. Logo após começou a construção de um centro de treinamento para abrigar o time principal e as categorias de base e, em paralelo a isso, montava equipes para se manter e alcançar melhores posições na segunda divisão inglesa. Começava, portanto, um projeto esportivo. Conforme os anos foram se passando, o Brighton melhorava constantemente suas equipes graças a sua atuação no mercado de transferências e a implementação de uma ideia de jogo. Durante os 14 anos de gestão de Bloom, o clube teve somente 6 treinadores. Podemos destacar Chris Hughton (que ficou por 5 anos e foi responsável por conseguir o acesso e a manutenção do time na Premier League), Graham Potter (que melhorou o nível de jogo do time e alcançou as melhores colocações até então) e Roberto de Zerbi (que assumiu o comando já com a atual temporada em andamento depois que Potter teve sua multa rescisória paga pelo Chelsea). Agora, sabe o que todos têm em comum? A similaridade nas suas propostas de jogo (com diferenças, claro). Potter e De Zerbi são adeptos do jogo de posição, sendo o italiano um pouco mais ortodoxo que o inglês. Hugthon também gostava de ter o controle do jogo devido às circunstâncias de manter o clube na primeira divisão e, por isso, era mais desapegado de suas ideias pessoais. Porém, existe ali uma ideia de jogo já instaurada dentro do clube. Foi dessa forma que a equipe comanda por De Zerbi mostrou um futebol extremante instigador, encantando o continente europeu e arrancando elogios dos principais treinadores do mundo. A sexta posição na Premier League rendeu ao clube não só sua melhor posição na história como também o passaporte para disputar a Europa League, sua primeira competição européia.

Mas a fórmula para o sucesso do Brighton está no processo minucioso de captação de jogadores, que foi criado dentro dos departamentos de análise e mercado do clube, baseado na investigação de dados e observação de desempenho feitas pelos seus scouts e olheiros. O clube tem uma grande rede para pescar talentos em vários lugares do mundo, sendo que cada vez mais estão dando atenção ao talento sul-americano. Sua categoria de base, quase que recriada com a compra do clube, já consegue revelar jogadores que hoje estão nas suas seleções principais, coisa que até outro dia parecia utopia. E foi dessa forma que o clube teve jogadores como: Cucurella, Bissouma, Ben White, Trossard e o campeão do mundo, Alexis Mac Allister, que somados custaram cerca de 57 milhões de euros e que, para além do retorno esportivo, renderam ao clube cerca de 218 milhões de euros com suas vendas. Na equipe que vai começar a temporada seguinte ainda temos jogadores como: Caicedo, Ferguson, Enciso, Mitoma, Buonanotte e Lampley, que somados custaram 22,6 milhões de euros e hoje já valem cerca de 115 milhões de euros. Um projeto esportivo consolidado. É dessa forma as gaivotas do sul da Inglaterra começam a alçar seus voos mais altos.

Matheus Alves

Matheus Alves, 23 anos, estudante de Educação Física e auxiliar técnico de futsal na Casa de España.