Esporte

Vasco SAF: o que mudou?

Quero estrear essa coluna falando do coração. Por isso venho falar sobre o Vasco da Gama. Sou vascaíno desde que me entendo por gente e isso molda não só minha relação com o futebol como também como pessoa.

Nesses meus 23 anos de vida, o Vasco me ensinou muita coisa. Principalmente, que é preciso ser resiliente, porque ser de um clube do tamanho que é o Vasco, dentro e fora de campo, e viver duas décadas de crise, em todos os sentidos possíveis que essa palavra permite, não é nada fácil e a tentação de largar tudo é enorme.

Eis que surge uma esperança vinda do norte das américas, falando inglês e apresentando uma saída rápida para o maior dos problemas: a crise financeira e a possibilidade de competir novamente. Mais do que tentador, me parece que a criação de uma SAF no Vasco se tornou o único meio de se tentar reconstruir o clube, visto que a massa política do mesmo estava, e ainda está, completamente descredibilizada e desorganizada.

Se perguntarem para mim se eu gosto dessa ideia de que meu clube seja administrado por pessoas que até outro dia talvez nem soubessem da existência do mesmo, eu respondo com tranquilidade: não gosto. Inclusive acho muito perigoso esse modelo adotado no Brasil. Porém, se quero ter esperança, não havia uma alternativa e ela veio. Hoje o Vasco é uma SAF administrada pela empresa 777.

E depois dessa longuíssima introdução vamos ao que realmente venho tratar: a chegada da 777 fez crescer em mim não só a ideia de uma gestão profissional do clube mas, sim, de uma reconstrução do futebol do Vasco. E, passados quase 6 meses desde o começo da temporada, o que me parece é que a SAF só trouxe um glacê bonito para enfeitar um bolo ruim. Digo isso porque, internamente, nada mudou no Vasco: os profissionais que trabalham nos departamentos são os mesmos de antes, os processos internos são os mesmo, as ideias são as mesmas.

O que mudou são apenas os nomes de quem está à frente do barco. E aí está o primeiro grande erro: reconstruir parte do pressuposto de que algo precisa ser feito novamente e o que acontece hoje é uma espécie de conserto. O problema é que tentar consertar algo que está quebrado faz duas década não me parece ser muito produtivo.

O segundo erro é exatamente nas escolhas de quem comanda esse processo. Primeiramente, o diretor executivo de futebol, Paulo Bracks, que, assim como vários outros aqui no Brasil, me parece mais executivo que do futebol, o que é um problema não só do Vasco como do futebol brasileiro. Nos principais clubes da América e na Europa, essa função leva o nome de diretor esportivo e se preocupa basicamente com o óbvio: o futebol.

Com Paulo Bracks vem a escolha do treinador, e o eleito foi Maurício Barbieri, jovem treinador de 41 anos que, na minha opinião, é dos mais promissores do país e que tem tudo para ser um dos melhores em pouco tempo. Mas não parece ter sido o nome certo para esse momento do Vasco, por mais que ele tenha uma experiência positiva numa SAF, que é o Red Bull Bragantino, foi em uma situação de muito menos pressão externa e de construção de algo, e não de reconstrução.

Mesmo assim, o começo de temporada foi bom e deu esperanças. Mas os resultados e o rendimento do time caíram drasticamente e, hoje, não criam expectativas de que se recupere.

Por fim, a chegada de Abel Braga, por quem tenho enorme simpatia, para ocupar um cargo que não tem funções bem definidas e que ajudaria a proteger o trabalho do treinador mas que, no final das contas, não se tem ideia exatamente das atribuições. A pergunta que fica então é: o que realmente mudou?

Matheus Alves

Matheus Alves, 23 anos, estudante de Educação Física e auxiliar técnico de futsal na Casa de España.